sábado, 11 de maio de 2013

A visita do Papa Francisco e os cristãos invisíveis


No mês de julho deste ano a mídia vai estar toda voltada à visita do Papa Francisco ao Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Vista por um ângulo, é um momento de graça, na tentativa de revigoramento de nossa juventude e de todos os cristãos católicos. Vista por outro ângulo, muitos cristãos, denominados pela Igreja como invisíveis, sairão, quem sabe, do anonimato, ao menos para receber um sorriso do simpático Pontífice argentino e de toda a Igreja.

 Já no tempo de Jesus, alguns judeus tementes a Deus se aproximaram do Messias apenas em alguns momentos. Podemos destacar desta lista Nicodemos e José de Arimateia, que no momento derradeiro da pior pena de morte de sociedade da época, resolveu oferecer o túmulo da família para sepultar Jesus, o Nazareno. Este gesto, bem como os diálogos de Nicodemos com Jesus, servem de âncora ao nosso argumento em foco.

Hoje em dia em nossa Igreja, vemos milhares de cristãos que foram batizados em Cristo dentro das comunidades católicas, porém, por uma série de motivos, ou afastaram-se da Igreja, ou resolveram por bem permanecer como se fossem cristãos invisíveis. As causas deste afastamento podem ter sido as mais diversas, dentre outras: a falta de credibilidade numa comunidade de fé muito voltada aos seus interesses internos; uma discussão havida na comunidade, onde as lideranças disputam o seu espaço ao redor do altar, da catequese, da organização da quermesse; a negação do batismo do filho só porque vivem numa situação irregular em relação ao matrimônio na Igreja; a negação na hora de batizar a filha da vizinha, enquanto padrinhos da mesma, só porque não são casados na Igreja, apesar de serem batizados, feito a primeira eucaristia e nela crismados; aquele sermão chato do sacerdote, que só fala de dinheiro ou que leva quarenta minutos para fazer uma homilia; aquela pregação moralista, que usa de exemplos indesejados, onde o olhar da comunidade foi direcionado a um destes cristãos que estava na assembleia dominical; o cativo exemplo de certos sacerdotes, envolvidos em questões afetivas ou homoafetivas; a incoerência de presbíteros e diáconos, que perderam o sentido de suas origens simples e modestas, do berço familiar, trocando-as pela evolução do consumismo (melhores veículos do mercado, celulares de última geração, computadores high-tec); a falta de tempo de certos padres para atender confissões, por serem direcionados a outros interesses; as visitas domiciliares e o atendimento voltados apenas para as madames de cabelo verde, que dão envelopes recheados por serviços sacramentais personalizados...

Alguém me interrogou, dias atrás, o que eu espero, a partir da visita do Papa ao Rio de Janeiro? Respondi que este evento não deveria ser apenas um teatro, em que personagens ensaiam para fazer uma bela encenação, com os holofotes voltados para o momento e no dia seguinte, tudo acaba. Sabemos que o Bispo de Roma, na qualidade de líder universal da Igreja, deve obedecer a protocolos, como chefe de Estado do Vaticano (país soberano). Também sabemos que ele poderá quebrar protocolos, como de fato já aconteceu, surpreendendo o mundo com seus gestos humildes, simples e iluminados, enfocando o humano que ele vai encontrar em todos estes segmentos que estarão ao seu redor.

Trazendo à baila os cristãos invisíveis, seria o momento ideal, em que eles pudessem visualizar na Igreja um homem de carne e osso, que é o sucessor de Cristo, o sucessor de Pedro, que está conseguindo externar um Messias diferente daquele apresentado por muitos agentes eclesiais da Igreja católica. Se até as outras denominações cristãs, judeus, muçulmanos, luteranos, anglicanos, budistas e tantos outras tradições religiosas o estão admirando, não seria o momento da Igreja católica romper com o gesso que a engaiolou durante séculos, muito voltada para si mesma? Certamente os cristãos visíveis e invisíveis criariam a coragem de sair das sacristias, sacudindo a poeira do status quo, ou a trocarem as meras plateias de missas shows, orquestradas por sacerdotes de perfil midiático, para vestirem o avental do lava-pés. Por outro lado, o exemplo do Bergoglio pode despertar na Igreja católica, especialmente na multidão de jovens do Brasil e do mundo, a aurora de uma Igreja menos preocupada com normas, com um pulmão respirando no direito canônico e outro respirando na ausculta do humano, que necessita de urgente misericórdia para ser reinserido na comunidade de fé.

Em resumo, os cristãos invisíveis não saíram da Igreja. Apenas estão um tanto afastados e gostariam de voltar, desde que houvesse o abraço de um compromisso cristão em comum, onde se deixe o Evangelho fale mais alto que certas práticas em que é apresentado por um bom número de agentes eclesiais. E que o Espírito do Senhor ilumine esta visita do Papa Francisco ao nosso querido Brasil, para que o sol de Assis volte a brilhar em nossos corações e mentes!!!

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