De acordo com o Congresso Capitular (Conselho) da sua entidade religiosa (Província), Frei Ivo recebeu a consulta e a aceitação para cuidar de uma paróquia territorial, sendo transferido, portanto, do Convento de Santo Antônio (Rio de Janeiro, RJ) para Forquilhinha, Santa Catarina. Em base ao novo desafio, eu, como repórter virtual, por um dia, resolvi fazer algumas perguntas Frei Ivo, como seguem:
Repórter virtual: O senhor, além de Guardião do Convento, era Professor de Direito Canônico no Instituto Teológico Franciscano (Petrópolis) e agora irá para uma paróquia?
Frei Ivo: De fato, no início tremi nas bases por deixar o mundo acadêmico, como professor há quase dezesseis anos, para cuidar de uma paróquia que fica a quase 1.500 km de distância daqui. Na qualidade de professor, consegui ver na experiência de sala de aula, um espaço fecundo para as reflexões. Alguns professores se queixam que seus estudantes dormem na sala ou estão conectados nas redes sociais, em contato com outras tribos de seus interesses. Nas minhas aulas, isto não acontecia, porque os assuntos de Igreja, contextualizados pela análise de conjuntura, despertavam tanta busca por respostas, que as aulas não eram suficientes para esgotar tais questionamentos. As aulas expositivas, aliadas aos casos discutidos em grupos, certamente muito contribuíram na formação de tantos fiéis teólogos, sejam eles religiosos, clérigos, leigas e leigos. Me sinto feliz por ter feito a minha parte e quem sabe um dia a gente volte.
Repórter virtual: Como o senhor vê esta transferência na sua vida?
Frei Ivo: Todos nós conhecemos a diferença entre água de cisterna e água de vertente, sobretudo lá no Oriente Médio, onde continuo levando grupos de peregrinos. A água de cisterna, se permanece acomodada em seu recipiente por muito tempo, fica choca. Mas água de vertente, é sempre nova. Estou na meia idade e como franciscano, não tenho morada fixa. Portanto, vejo como um novo desafio, onde devo deixar o carioquês, que já estou meio habituado falar, e voltar para o espaço barriga verde. Sou de Chapecó (oeste catarinense). Forquilhinha está no leste do Estado, próximo ao litoral. Uma cidade linda, com um povo trabalhador e muito organizado. Já estive lá por um dia e tive a impressão que é um povo muito bom. Será diferente do Rio de Janeiro, mas na linguagem do serviço, na linha do Lava-pés, a gente certamente vai se entender.
Repórter virtual: O senhor, de certa forma, era um pároco virtual. Agora será um pároco territorial. Poderia explicar aos internautas esta diferença?
Frei Ivo: Além da minha paróquia virtual, que vai continuar, existem outras paróquias nesta mesma linha. No meu caso, as atividades se restringiram especialmente na resposta à demanda apresentado, procurando dar uma breve fundamentação teológico-jurídica, a partir da reflexão e partilha, virtual. Nessa paróquia, não temos sócios dizimistas e nem administração real ou virtual de sacramentos. Em outras palavras, é um instrumento a serviço dos internautas, que querem saciar curiosidades ou partilhar suas experiências, por intermédio da internet. A paróquia territorial é uma porção do povo de Deus, funcionando dentro de um determinado território, confiada aos cuidados de um pároco. Dentre as suas várias funções, o pároco lidera e administra praticamente todos os sacramentos, visita os enfermos, celebra os funerais, preside mais solenemente a Eucaristia nos domingos e dias de festa na Igreja (cf. cânon 530). Por outro lado, deve ser esforçar para conhecer os fiéis que lhe são confiados (cânon 529), sendo um pastor com cheiro das ovelhas, como afirma o Papa Francisco. É claro que ele não faz tudo isso sozinho, mas ajudado pelos demais agentes eclesiais da paróquia. No caso da paróquia de Forquilhinha, seremos cinco frades que somaremos as forças com as lideranças da comunidade de comunidades, procurando servir do melhor modo possível esta porção do povo de Deus. E vamos trabalhar na dinâmica da Igreja em saída, como insiste o papa atual.
Repórter virtual: À guisa de conclusão, qual a mensagem que o senhor gostaria de deixar aos internautas?
Frei Ivo: Vivemos numa época em que é melhor a gente ficar na zona de conforto, diante dos meios modernos de comunicação, procurando viver a boa nova do Evangelho na interação com estes meios. Porém, a comunidade territorial ainda é o espaço privilegiado, onde a gente encontra os irmãos, dá um aperto de mão, um cheiro (abraço). Sempre digo que assim como procuramos academias em busca da qualidade de vida física, a comunidade territorial é a academia onde nós cultivamos os valores espirituais e percebemos que o outro é extensão de mim mesmo. Nesta quaresma, vamos fazer um esforço para irmos ao encontro de nossos irmãos e irmãos, que formam a família espiritual, muitas vezes melhor que a família carnal. E que o Cristo ressuscitado jogue um facho de luz dentro de cada pessoa, para que ela seja sinal de ressurreição dentro da família e da sociedade do entorno.
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