domingo, 19 de maio de 2013

Batismo ou Funeral de animais de estimação na Igreja

- Uma senhora se aproxima do sacerdote, no final de uma celebração, pedindo que abençoe as fitinhas do seu cão de estimação;

- Judite é uma dessas católicas invisíveis, que quase nunca comparece à Igreja. Já é viúva de dois maridos e nunca conseguiu engravidar. Então, resolveu por bem comprar um gato, deu-lhe um nome. Como a sua estima pelo animal é muito grande, veio até nós, pedindo se não poderia batizar o seu gatinho, por medo que ele morra sem ser batizado e não consiga entrar no céu dos animais;

- Tommy frequenta uma Igreja da zona sul do Rio de Janeiro. Tinha um cão que era o seu único companheiro fiel, pois morava sozinho num apartamento de luxo da Barra. Para o seu azar, inesperadamente o cão entrou em depressão e foi constado um câncer no fígado, que não conseguiu superar. O cão morreu e ele, entre lágrimas, chamou um sacerdote em sua residência, pedindo que fizesse uma celebração de exéquias ali mesmo, pois já estava velando o animal há quase dois dias. O seu grande desejo era que o seu amado cão pudesse ser cremado, dignamente, depois de desta celebração. O sacerdote, no entanto, negou a celebração.

Os três casos em cenário são resultado de uma sociedade ultramoderna, que aos poucos foi substituindo os filhos gerados ou adotados pelos animais de estimação. Diante disso, gostaria de tecer algumas considerações, que não pretendem ser uma crítica direta a quem esteja envolvido neste segmento da sociedade, porém uma constatação, em busca de esclarecimentos.

No passado, era comum a gente ler atrás dos veículos: cuidado, bebê à bordo. Hoje em dia, vemos que muitas dessas escritas foram alteradas para: dog on board. Também sabemos que este segmento do comércio abrir verdadeiros pet shoppings, tendo em vista a lógica demanda por produtos condizentes com o consumo do momento. Se pode comprar para animais de estimação: coleiras com segredos, sofás, colchões, xampu, condicionador, cremes para o pelo, creme dental, fio dental, roupas, calçados, alimentos dietéticos, sobremesas, dentre outros produtos.

Na linha do cuidado para com estes animais, os veterinários estão passando de “clínicos gerais” a desmembramentos especializados nesta área da saúde animal. Assim, surgem, por exemplo, neurologistas para animais deste tipo, psicólogos, psiquiatras, pedagogos, massagistas. E contra o stress, é procurado, o personal dog trainer, dentre outros prestadores de serviço, especializado.

Muitas pessoas, hoje, não viajam sem levar os seus animais no veículo, no ônibus, no trem, no navio, no avião. E se por acaso decidem renunciar este amor pelos animais, por alguns dias em sua ausência, colocam os mesmos em hotéis e apartamentos, recomendando que os recepcionistas liguem ou atendam suas ligações, diariamente, para saber se estão sendo bem tratados.

No centro de grandes cidades, a gente encontra uma série de mendigos dormindo debaixo de marquises. Porém, dificilmente encontra animais vira-latas, em busca de alimentos. O lixo hoje é mais revirado em busca de alimentos pelos humanos que vivem nos porões da humanidade do que pelos animais. E ai daquele ou daquela motorista que atropelar um cão ou um gato. Na maioria das vezes, teria sido melhor - no bom entendimento da palavra - que tivesse atropelado um ser humano.

Voltando aos casos em epígrafe, haveria uma resposta teológico-jurídica para cada caso colocado?
1) Antes de mais nada, não se trata de negar os direitos dos animais a uma vida mais digna e menos abandonada. Exemplo disso são as verdadeiras organizações que se preocupam com cães e gatos abandonados, inclusive com creches e possibilidade de adoção destes animais;
2) Os animais podem despertar vida, entusiasmo. Quem não gosta de um sorriso de um cão, ao passar a mão nele, sob os cuidados do seu dono? Testemunhos comprovam que a convivência de crianças enfermas com animais de estimação tem ajudado na cura e autoestima. Porém, seria ideal que estes animais não substituíssem a tarefa humana em prol do cuidado e da qualidade de vida dedicada a estes seres que não podem ser terceirizados a cães e gatos;
3) O ser humano, desde que nasça, cresça e seja educado dentro de um lar bem estruturado, mesmo que seja numa outra dessas configurações de família, pós-moderna, exige toda a dedicação possível. Também pode trazer surpresas, depois de dezenas de anos, em que os filhos não reconhecem o amor de seus genitores ou tutores. Tem gente que abandona o lar, gente que se suicida, gente que entra para o mundo da droga, gente que se revolta com aqueles mais cuidaram deles, sem dar uma plausível justificativa. Em resumo, o ser humano é uma caixa de surpresas, que necessita sempre da atenção, do amor e de muita dedicação. Mesmo sendo amado, pode não ser correspondido. Já com os animais de estimação, parece mais fácil.. Seria mais fácil adestrar um cão que educar uma criança, um adolescente. Por isso, a preferência das pessoas pelos animais;
4) A maioria dos cristãos católicos que se preza, procura participar da comunidade de seu interesse e também, batizar seus filhos nela, receber bênçãos e quando chega o momento final, solicitar da Igreja um digno funeral, com a celebração de exéquias.
5) Ao buscar respostas sobre a questão da morte ou funeral de animais, não encontramos nada no direito da Igreja ou na sua liturgia. Já na internet a gente pode se deparar com respostas como as que seguem:
Aqui em Portugal no Zoo tem um cemitério próprio pra cães e gatos, igualzinho ao das pessoas. Mas, por exemplo, o cachorro da minha madrinha morreu no veterinário. Então ela pediu pra eles cremarem ele junto com os brinquedinhos dele e depois jogou as cinzas no mar. Tem também quem enterre o seu animal de estimação num jardim perto de casa ou mesmo em jardins de casa e então coloca algo lá, flores ou outra coisa pra saber que tá ali. Acho muito bonito você fazer o funeral sim, os animais nos dão tanto, carinho, amor, e ao contrario das pessoas, nunca nos abandonam, acho que nessa hora há que fazer o melhor por eles”... “Faça uma caixinha e coloque-o dentro. Reze 2 pai nossos e 3 Ave Maria e coloque numa outra caixinha com tampa e enterre-o. Pronto. Seu bicho descansará  em paz!”
( http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100402201923AALZYLI)
“Chegará aquele dia em que seu fiel companheiro, aquele que era considerado um membro da família e que também foi a alegria das suas crianças... deixará o convívio familiar... Ele será recolhido no local em que se encontre, colocado em um ataúde e levado para sepultamento ou cremação... Para o sepultamento,  dispomos de um moderno cemitério onde seu animal será colocado em jazigos de cimento... Para a cremação, contamos com um moderno crematório devidamente credenciado pelas autoridades sanitárias” (http://serfupa.tripod.com).
“Uma pessoa convive com seu animal de estimação em momentos muito importantes de sua vida e muitos animais acompanham seus donos por até 20 anos. Neste tempo um vinculo de Amor e Amizade foi criado e é isso que celebramos. É uma celebração do Amor e da Amizade que nós humanos podemos ter por nossos animais de estimação que nos dão tanto carinho e nos acompanham por muitos anos”(http://www.joseferrazcelebrante.com/joseferraz).
6)    De acordo com as citações colhidas na internet, existem depoimentos e serviços prestados nesta área. Porém, pelo que me consta até momento, nenhuma celebração religiosa, reconhecida pela Igreja;
7)    Em relação à bênção de fitinhas para animais ou até a bênção de animais, estamos plenamente de acordo. Aliás, a bênção de animais é muito comum, especialmente no dia de São Francisco de Assis, ou sempre que alguém solicite isto a um religioso ou sacerdote. Porém, para ministrar batismo ou outros sacramentos a animais, ou ainda celebrações de exéquias a animais de estimação, ao menos até o momento, não temos a permissão da Igreja.

Diante do exposto, a resposta é afirmativa em prol do primeiro caso; negativa ao segundo caso, e ao terceiro, negativa também, uma vez que a celebração de exéquias, embora seja um sacramental, careça de fundamentos teológicos e eclesiásticos. O que se poderia fazer é uma oração a favor da pessoa envolvida. Porém, ao animal, nem a bênção seria permitida, porque ele já está morto! 
 

sábado, 11 de maio de 2013

A visita do Papa Francisco e os cristãos invisíveis


No mês de julho deste ano a mídia vai estar toda voltada à visita do Papa Francisco ao Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Vista por um ângulo, é um momento de graça, na tentativa de revigoramento de nossa juventude e de todos os cristãos católicos. Vista por outro ângulo, muitos cristãos, denominados pela Igreja como invisíveis, sairão, quem sabe, do anonimato, ao menos para receber um sorriso do simpático Pontífice argentino e de toda a Igreja.

 Já no tempo de Jesus, alguns judeus tementes a Deus se aproximaram do Messias apenas em alguns momentos. Podemos destacar desta lista Nicodemos e José de Arimateia, que no momento derradeiro da pior pena de morte de sociedade da época, resolveu oferecer o túmulo da família para sepultar Jesus, o Nazareno. Este gesto, bem como os diálogos de Nicodemos com Jesus, servem de âncora ao nosso argumento em foco.

Hoje em dia em nossa Igreja, vemos milhares de cristãos que foram batizados em Cristo dentro das comunidades católicas, porém, por uma série de motivos, ou afastaram-se da Igreja, ou resolveram por bem permanecer como se fossem cristãos invisíveis. As causas deste afastamento podem ter sido as mais diversas, dentre outras: a falta de credibilidade numa comunidade de fé muito voltada aos seus interesses internos; uma discussão havida na comunidade, onde as lideranças disputam o seu espaço ao redor do altar, da catequese, da organização da quermesse; a negação do batismo do filho só porque vivem numa situação irregular em relação ao matrimônio na Igreja; a negação na hora de batizar a filha da vizinha, enquanto padrinhos da mesma, só porque não são casados na Igreja, apesar de serem batizados, feito a primeira eucaristia e nela crismados; aquele sermão chato do sacerdote, que só fala de dinheiro ou que leva quarenta minutos para fazer uma homilia; aquela pregação moralista, que usa de exemplos indesejados, onde o olhar da comunidade foi direcionado a um destes cristãos que estava na assembleia dominical; o cativo exemplo de certos sacerdotes, envolvidos em questões afetivas ou homoafetivas; a incoerência de presbíteros e diáconos, que perderam o sentido de suas origens simples e modestas, do berço familiar, trocando-as pela evolução do consumismo (melhores veículos do mercado, celulares de última geração, computadores high-tec); a falta de tempo de certos padres para atender confissões, por serem direcionados a outros interesses; as visitas domiciliares e o atendimento voltados apenas para as madames de cabelo verde, que dão envelopes recheados por serviços sacramentais personalizados...

Alguém me interrogou, dias atrás, o que eu espero, a partir da visita do Papa ao Rio de Janeiro? Respondi que este evento não deveria ser apenas um teatro, em que personagens ensaiam para fazer uma bela encenação, com os holofotes voltados para o momento e no dia seguinte, tudo acaba. Sabemos que o Bispo de Roma, na qualidade de líder universal da Igreja, deve obedecer a protocolos, como chefe de Estado do Vaticano (país soberano). Também sabemos que ele poderá quebrar protocolos, como de fato já aconteceu, surpreendendo o mundo com seus gestos humildes, simples e iluminados, enfocando o humano que ele vai encontrar em todos estes segmentos que estarão ao seu redor.

Trazendo à baila os cristãos invisíveis, seria o momento ideal, em que eles pudessem visualizar na Igreja um homem de carne e osso, que é o sucessor de Cristo, o sucessor de Pedro, que está conseguindo externar um Messias diferente daquele apresentado por muitos agentes eclesiais da Igreja católica. Se até as outras denominações cristãs, judeus, muçulmanos, luteranos, anglicanos, budistas e tantos outras tradições religiosas o estão admirando, não seria o momento da Igreja católica romper com o gesso que a engaiolou durante séculos, muito voltada para si mesma? Certamente os cristãos visíveis e invisíveis criariam a coragem de sair das sacristias, sacudindo a poeira do status quo, ou a trocarem as meras plateias de missas shows, orquestradas por sacerdotes de perfil midiático, para vestirem o avental do lava-pés. Por outro lado, o exemplo do Bergoglio pode despertar na Igreja católica, especialmente na multidão de jovens do Brasil e do mundo, a aurora de uma Igreja menos preocupada com normas, com um pulmão respirando no direito canônico e outro respirando na ausculta do humano, que necessita de urgente misericórdia para ser reinserido na comunidade de fé.

Em resumo, os cristãos invisíveis não saíram da Igreja. Apenas estão um tanto afastados e gostariam de voltar, desde que houvesse o abraço de um compromisso cristão em comum, onde se deixe o Evangelho fale mais alto que certas práticas em que é apresentado por um bom número de agentes eclesiais. E que o Espírito do Senhor ilumine esta visita do Papa Francisco ao nosso querido Brasil, para que o sol de Assis volte a brilhar em nossos corações e mentes!!!